Claricianas XI
Deito-me no noturno dos caminhos percorridos.
Estico minha preguiça às estrelas. Os
silêncios, de que sou feita, me liquefazem. Sei como inventar um pensamento, mas
recuso essa força visceral. Não quero minha parte humana a dominar o corpo.
Sepultei meus sonhos na imagem de um homem. Mas os sonhos
não foram capazes de torná-lo real. Agora sou amiga do tempo. Conversamos por telepatia. De vez em quando ele me dá uma prova de vida, como o instante
que se quebra, agora, diante do meu olhar e desamarra as possibilidades de algo
premeditado. Mas minha felicidade é ainda um caracol que o tempo custa a
desenrolar. Carrego nas costas essa espiral realista. Às vezes não falo, para
não entristecer mais a vida. Em outras, como agora, não falo para não ser
obrigada a pensar. Pensar é pontuar a vida. É colocar um ponto infeliz ao final
de qualquer frase. Há muitos pontos desnecessários. Eu tenho vários deles
trancando minha história. Caixa denpandora com tantas emoções resguardadas.
Tudo velado pelo medo de parecer frágil, parecer fácil, parecer humana demais.
Quem nasce mulher tem a obrigação de ser forte, alertava-me minha avó desde
cedo. Ser forte é apalpar o vazio da ausência sem chorar. Por isso essas mãos
escalavradas. Esses traçados tortos na linha do meu destino. Minha filha nunca
será forte, mesmo que um dia resolva nascer mulher.
Maravilho, é bom demais ler seus contos.
ResponderExcluirbjs
irene
Corajosa? Poucao para definí-la! Sensível? Ô, que lugar comum, salta aos olhos à primeira vista! Despudorada? Talvez, talvez, à medida em que lacera as carnes virgens ou cutuca velhas feridas, aquelas que jamais cicatrizam (vide os versos do velho Raul: "ninguem neste mundo é feliz tendo amado uma vez!"). A escrita de Lucilene me arrepia, fico pasmo ante sua coragem, espanto-me com sua visceralidade! (por isso, escrevo também aqui sem nenhum pudor ou reservas! Lucilene é assim, te convida ao duelo, a igualmente se expor! Se fosse eu um moderno jovem da geração videogame, sem dúvida vaticinaria: Lucilene Machado é phoda!) Perdoe-me, mas voce tem o condão de fazer-nos refletir sobre coisas aos olhos comuns, seriam meras superficialidades, conversas bobinhas de dondocas no cabeleireiro! Tens na pena, a espada de prata!
ResponderExcluirObrigada, querido. Sou feliz em tê-lo como leitor. Suas palavras valorizam o meu texto e quase me fazem parecer necessária nesse processo de reveleção, de coragem de subornar as verdades convencionadas. Você fez meu dia ficar mais ensolarado.
ResponderExcluir"Subornar as verdades convencionadas", eis um mote bastante adequado. É algo novo, sem dúvida, num mundo dominado pelo hedonismo e as máscaras "convencionais"...Eh, e sem dúvida és necessária no processo, nos torna igualmente cúmplices (e quase nos faz parecer, nós leitores, no processo!) parabens, novamente!
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