terça-feira, 28 de julho de 2015




Tenho sempre uma viagem bailando nos olhos. Nasci embriagada de universos. Os cartões-postais estrangulam os horizontes do meu desejo. Meu corpo é cheio de espaços vazios que precisam ser preenchido com lugares. De modo que, todas as noites, descalça, vou e volto a um país desconhecido a um lugar que eu não habito, mas que me habita por dentro. Vou salvando versos que libertam minhas algemas de alforria e tropeçando em estrofes no meio das ruas. Não meço distâncias, atravesso as linhas limites com a satisfação de estar longe da casa onde nasci. Há tantos lugares no mundo onde eu gostaria de viver... Mas não é simples conciliar desejo e realidade, a maioria mora em lugares para os quais foram predestinados e não exatamente por escolhas. Comigo foi assim, de modo que me acostumei a seguir nascendo em inúmeros  lugares desconhecidos. Parteira de mim mesma, arrasto-me como uma sentença até ao ostracismo estrangeiro, de onde espio a vida acontecer. Nomeio-me em filigrana a cada sitio. Batizo-me  debaixo de distintos céus. A mãe natureza é a mesma em qualquer parte do mundo. Boceja a solidão com sua belíssima boca,  engolindo o caos de cada dia.

Lucilene Machado.