segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Claricianas XI






Claricianas XI


Deito-me no noturno dos caminhos percorridos.  Estico minha preguiça às estrelas. Os silêncios, de que sou feita, me liquefazem. Sei como inventar um pensamento, mas recuso essa força visceral. Não quero minha parte humana a dominar o corpo. Sepultei meus sonhos na imagem de um homem. Mas os sonhos não foram capazes de torná-lo real. Agora sou amiga do tempo. Conversamos por telepatia. De vez em quando  ele me dá uma prova de vida, como o instante que se quebra, agora, diante do meu olhar e desamarra as possibilidades de algo premeditado. Mas minha felicidade é ainda um caracol que o tempo custa a desenrolar. Carrego nas costas essa espiral realista. Às vezes não falo, para não entristecer mais a vida. Em outras, como agora, não falo para não ser obrigada a pensar. Pensar é pontuar a vida. É colocar um ponto infeliz ao final de qualquer frase. Há muitos pontos desnecessários. Eu tenho vários deles trancando minha história. Caixa denpandora com tantas emoções resguardadas. Tudo velado pelo medo de parecer frágil, parecer fácil, parecer humana demais. Quem nasce mulher tem a obrigação de ser forte, alertava-me minha avó desde cedo. Ser forte é apalpar o vazio da ausência sem chorar. Por isso essas mãos escalavradas. Esses traçados tortos na linha do meu destino. Minha filha nunca será forte, mesmo que um dia resolva nascer mulher.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Claricianas I





Claricianas I
                             Lucilene Machado

Às vezes me ocorre um pensamento mais rebuscado. É um sentir que não sei escrever. Escrevo sobre amor e o amor é pesado de sonhos. Meus pensamentos são esses fios invisíveis apertando o coração. São essas correntes primárias  convergindo para um mesmo rumo. Todas as ruas levam à dor. Ainda assim tenho esperança. Sou doente da esperança da paixão. Já comi pétalas de rosa vermelha. Mas isso não conto. Também não sei se é necessário. Enfim, o que posso dizer que seja necessário? Nem eu sou necessária. Vivo no superlativo, mas só me é aproveitado o mínimo. Os homens se contentam com o mínimo que pode ser encontrado no corpo. E o meu corpo se parece com todos os outros. Eu seria igual, não fosse essa tristeza vertical escorrendo por minhas veias e artérias. Uma dor sincera que passeia insone sobre minha geografia. Eu amo as pessoas na medida em que elas vão me esquecendo. Meu amor é um pedido silencioso de socorro para que voltem e retirem o espinho cravado na carne. Mas as pessoas são medrosas. O mundo jaz no medo. Medo de amar. Fui ao psiquiatra porque tinha fome de amor, ele me ofereceu tranquilizantes. Continuo incurável.