quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Claricianas IV




Toda manhã é uma nova página onde invento um homem e o desenho sobre o papel. Mas sempre estou pronta a apagá-lo, delicadamente, com a ponta de meus dedos. Isso é amor. Ou nem mesmo é. Inútil questionar. O amor resguarda o enigma do não saber. E sempre uma felicidade leve pousando na pele do sonho. Escrevo amor com tinta verde, mas em minha pele escreveram com tinta vermelha. No jogo das cores, fiquei com as letras em brasas vivas queimando as lembranças do passado. A palavra é a mesma, mas não oferece consolo. Amor latente. Adjetivo que não dá vida, mata. Nel mezzo del cammin di nostra vita. Beatriz e o fio cortado ao meio. Letra morta, morrida numa página branca. Morte é palavra dura escrita numa linha secreta. O que passará pela nossa cabeça além das citações bíblicas e das tentativas de esconder o desejo debaixo de alguma costela? O desejo é no corpo, talvez por isso a resistência. Não mereço morrer, acho linda a lua em todas as suas fases, e não suportaria a idéia de não vê-la mais improvisar um poente por detrás das árvores retorcidas, sobretudo não suportaria a idéia de não inventar homens-deuses.

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