domingo, 22 de novembro de 2009

Claricianas XVI

XVI






Nasci para três coisas: amar, amar e amar. A ilusão existe para me proteger dessa verdade matemática enquanto o tempo destrói as mentiras que eu inventei. Sempre menti para disfarçar essa soma ímpar. Respirei o subtendido dos silêncios disfarçando o que eu supunha ser necessário esconder. Infinitos círculos mentais para esconder as pontas desses fios desordenados. Parecia-me a coisa mais perfeita que eu sabia fazer. A coisa que a gente nunca diz por julgar ser secreta. Mas o corpo não disfarça e nas primaveras sempre desabrocho em pétalas. Um dia disseram que me amavam. Juraram. Eu duvidei, mesmo assim espalhei-me como as pétalas. Um dia disseram que me queriam para sempre, não cri, mas me decompus em mil fragmentos. Um dia não me disseram nada e eu senti falta do engano com que fui amada. Se eu chegar a ter uma compreensão lúcida da vida, descobrirei porque o amor é a coisa que menos entendo e de que mais sei. Vejo amor até nas palavras de quem não acredita em amor. Gosto do seu sonido mesmo em frases teatrais esticadas por adjetivos e hipérboles. Há uma instância órfã no meu coração sempre pronto a acreditar. E por que não?

L.M.

2 comentários:

  1. Adorei o seu texto.
    Comprei o livro Claricianas para dar de presente à uma amiga e me apaixonei por ele.
    Amei a profundidade dos textos e como alguns deles mexeram comigo.

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  2. Obrigada Camila por sua leitura e pelo carinho em me escrever. Abraços.

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Comentários